@linaekiet

14 hours ago

Júlio, você se resignifica através desse e outros diversos álbuns que me remetem à você. Se tornou clichê aquela frase: você pode não ter sido meu primeiro amor, mas é meu primeiro amor. Compreende? Eu nunca me senti assim em relação a ninguém. Nunca fiz questão de fazer cartas e textos tão minuciosamente como faço para ti. De registrar cada momento e guardar como se fosse minha própria vida. Ao te amar como se fosse sempre a nossa primeira vez. Eu rezei tanto por algo que nem sabia o quanto poderia me fazer feliz, com você, eu me sinto completa. É por isso que além de transferir as cartas por manuscrito, deixarei espalhado por aqui meus sinceros sentimentos por ti. Vamos começar do começo? Eu me tornei uma criança curiosa que se questionava muito sobre o porquê do mundo e das coisas, aquelas que eram consideravelmente bestas. Porém me perguntava principalmente sobre o porquê das pessoas se amarem e se casarem. Achava que era algo tão inútil quanto qualquer outra coisa, até porque, quem precisa de outra pessoa para se sentir feliz? (pensamentos de uma garotinha estoicista) Eu costumava pensar que para ter uma pessoa a quem pudesse confiar meu amor, teria que mudar de cidade ou região, teria que mudar quem eu era, ou o que eu achava que fosse. Achava que meu amor estaria me esperando em algum lugar bem distante daqui, um lugar onde se sentisse deslocado do mundo, assim como eu. Aos nove anos percebi o tipo de relacionamento que as pessoas da minha família tinham. Minha mãe e meu pai foram um grande exemplo de algo que jamais deveria ter acontecido, mas por algum motivo existiu, naquele instante. Aos poucos percebi que estava condenada a seguir o mesmo rumo que o da minha mãe, das minhas tias e primas. Na minha família, o amor era quase inexistente, nenhum deles deu certo. Amores abusivos, amores perdidos, amores amores amores. Sempre sozinhas, doando muito de si para as pessoas erradas e sempre magoando as certas. Eu nunca quis fazer parte disso, mas em cada um dos lugares em que frequentava, percebia o quanto era passageiro essa paixão. O quão supérfluas as pessoas podem ser? O mesmo cara, na mesma praça, sempre mudava alguma garota, e vice-versa. No fim, a história se repetia como um limbo infinito e penoso. Eu não queria apenas um amor de fim de tarde. O que eu quero ultrapassa as linhas do espaço-tempo, o que eu quero tem alma e essência. São nessas observações de uma criança curiosa e aventureira, que poderia ser facilmente chamada de fofoqueira, em que me desiludia ao acreditar que alguém iria me amar. Nessas apreensões em que desisti de esperar um alguém que me conhecia, ou alguém que jamais esperaria conhecer. Para toda garota, dizem que o pai é o seu primeiro exemplo de homem que ela deveria se espelhar para ter um parceiro no futuro, um reflexo de como ela deveria ser tratada. Para mim, isso nunca aconteceu. Conheci ele apenas uma vez, o suficiente para perceber que idealizei um homem que é irreal. Em minha mente, eu pensava que ele seria carinhoso e cuidadoso, mesmo não me procurando ou se dando à curiosidade de conhecer a sua filha. Mas não, assim como metade dos brasileiros, sem pais presentes, me tornei 'despaizada' (KKKKKK). Naquela época, eu deveria ter em torno de cinco a seis anos, quando tive a oportunidade de saber quem ele era. Nunca me esconderam sobre ele, porém, ninguém gostava de tocar no assunto. Agora eu entendo o porquê. Nesse momento, eu também entendo o porquê de me sujeitar a tantas coisas que não merecia. Muitas vezes, tive de me reinventar e ser aquela que não sou para agradar alguém, para sentir alguma coisa.  Eu nunca tive alguém para me ensinar o amor que eu merecia, para me sentir verdadeiramente amada. E pela primeira vez, eu me sinto.  Os pequenos detalhes fazem a total diferença. Apesar de ter vivenciado certa vez o sentimento de amor, aquele não era o meu amor.  Pensava que tinha encontrado um alguém que realmente ficaria, que não me abandonasse como certa vez alguém o fez. Acreditava que se eu não errasse, se eu demonstrasse meu sincero arrependimento quando cometesse um erro iriam reconhecer meu coração, o mais puro dos meus sentimentos. Eu estava errada, assim como das outras vezes. Eu sempre peço desculpas por tudo porque eu cresci pedindo perdão por amar demais, por sentir demais, por amar muito e pelo simples fato de ser eu mesma. Eu costumo falar pelos cotovelos e isso não é segredo para ninguém. Falo tanto que quando era dado o direito da palavra rapidamente era tomado de mim: por dizer demais, por me expressar muito, por sempre exagerar sobre o hiperfoco em alguns termos e assuntos. Para mim, a regra era clara; Porque há direito ao grito, Então eu grito. De que adianta ter voz se não podemos usá-la? De que me serve os assuntos e pensamentos filosóficos se não posso discuti-los? Do que adianta amar alguém se eu não posso confessar meus sentimentos? É por isso que te escrevo, porque eu te amo. Porque eu nunca fiz isso tão minuciosamente como faço para ti. Porque eu esperei tanto para sentir isso que não cabe em mim. Porque eu rezei por você, assim como eu espero que tenha feito o mesmo por mim. (abra os comentários) 15/05/2024

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